VARICELA (CATAPORA).

Definição
      Infecção viral primária, aguda, altamente contagiosa.

Agente etiológico
         Vírus RNA. Vírus Varicella-zoster (VVZ), família Herpetoviridae.

Reservatório
  • O homem.

Notificação
         Somente os casos graves, surto ou óbito devem ser notificados e registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), por meio da Ficha de Notificação Individual ou da Ficha de Investigação de Surto.

Modo de transmissão
      Pessoa a pessoa, por meio de contato direto ou de secreções respiratórias (disseminação aérea de partículas virais/aerossóis) e, raramente, através de contato com lesões de pele. Indiretamente, é transmitida por meio de objetos contaminados com secreções de vesículas e membranas mucosas de pacientes infectados.


Período de incubação
        Entre 14 e 16 dias, podendo variar de 10 a 21 dias após o contato. Pode ser mais curto em pacientes imunodeprimidos e mais longo após imunização passiva.

Período de transmissibilidade       
        Varia de 2 dias antes do aparecimento do exantema e estende-se até que todas as lesões estejam em fase de crosta.


Suscetibilidade e imunidade
     A suscetibilidade é universal. A infecção confere imunidade permanente, embora, raramente, possa ocorrer um segundo episódio de varicela. Infecções subclínicas são raras. A imunidade passiva transferida para o feto pela mãe que já teve varicela assegura, na maioria das vezes, proteção até quatro a seis meses de vida extra-uterina.

Manifestações clínicas
Período prodrômico inicia-se com febre baixa, cefaléia, anorexia e vômito, podendo durar de horas até três dias. Na infância, esses pródromos não costumam ocorrer, sendo o exantema o primeiro sinal da doença. Em crianças imunocompetentes, a varicela geralmente é benigna, com início repentino, apresentando febre moderada durante dois a três dias, sintomas generalizados inespecíficos e erupção cutânea pápulo vesicular que se inicia na face, couro cabeludo ou tronco (distribuição centrípeta).
Período exantemático – as lesões comumente aparecem em surtos sucessivos de máculas que evoluem para pápulas, vesículas, pústulas e crostas. Tendem a surgir mais nas partes cobertas do corpo, podendo aparecer no couro cabeludo, na parte superior das axilas e nas membranas mucosas da boca e das vias aéreas superiores. O aparecimento das lesões em surtos e a rápida evolução conferem ao exantema o polimorfismo regional característico da varicela: lesões em diversos estágios (máculas, pápulas, vesículas, pústulas e crostas), em uma mesma região do corpo. Nos adultos imunocompetentes, a doença cursa de modo mais grave do que nas crianças, apesar de ser bem menos frequente (cerca de 3% dos casos). A febre é mais elevada e prolongada, o estado geral é mais comprometido, o exantema mais pronunciado e as complicações mais comuns podem levar a óbito, principalmente devido à pneumonia primária.

Varicela e gravidez
       A infecção materna no 1o ou no 2o trimestre da gestação pode resultar em embriopatia. Nas primeiras 16 semanas de gestação, há risco maior de lesões graves ao feto, que podem resultar em baixo peso ao nascer, malformações das extremidades, cicatrizes cutâneas, microftalmia, catarata e retardo mental.
      Gestantes não imunes, que tiverem contato com casos de varicela e herpes-zóster, devem receber a imunoglobulina humana contra esse vírus, disponível nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIEs).
      A taxa de ataque para síndrome de varicela congênita, em recém-nascidos de mães com varicela no 1o semestre de gravidez, é de 1,2%; quando a infecção ocorreu entre a 13ª e a 20ª semana de gestação, é de 2%. Recém-nascidos que adquirem varicela entre cinco e dez dias de vida, cujas mães se infectaram entre cinco dias antes do parto e dois dias após, estão mais expostos à varicela grave, com a letalidade podendo atingir 30%. A infecção intrauterina e a ocorrência de varicela antes dos dois anos de idade estão relacionadas à ocorrência de zóster em idades mais jovens.

Complicações
• Ataxia cerebelar aguda;
• Trombocitopenia;
• Infecção bacteriana secundária de pele – impetigo, abscesso, celulite, erisipela,causadas por Streptococcus aureus, Streptococcuspyogenesou outras que podem levar a quadros sistêmicos de sepse, com artrite, pneumonia, endocardite, encefalite ou meningite e glomerulonefrite;
• Síndrome de Reye associada ao uso de ácido acetilsalicílico, principalmente
em crianças;
• Infecção fetal, durante a gestação, pode levar à embriopatia, com síndrome da varicela congênita (expressa-se com um ou mais dos seguintes sintomas: malformação das extremidades dos membros, microoftalmia, catarata, atrofia óptica e do sistema nervoso central);
• Varicela disseminada ou varicela hemorrágica em pessoas com comprometimento imunológico;
• Nevralgia pós-herpética (NPH) – dor persistente por quatro a seis semanas após a erupção cutânea que se caracteriza pela refratariedade ao tratamento. e mais frequente em mulheres e após comprometimento do trigêmeo.

Diagnóstico clínico
       Vide manifestações clínicas.

Diagnóstico laboratorial
     Os exames laboratoriais não são utilizados para confirmação ou descarte dos casos de varicela, exceto quando é necessário fazer o diagnóstico diferencial em casos graves (testes sorológicos).

Diagnóstico diferencial                          
      Varíola (erradicada), coxsackioses, infecções cutâneas, dermatite herpetiforme, impetigo, erupção variceliforme de Kaposi, riquetsioses, entre outras.

Tratamento
      Para pessoas sem risco de agravamento da varicela, o tratamento deve ser sintomático. Pode-se administrar antitérmico, analgésico não salicilato e, para atenuar o prurido, anti-histamínico sistêmico. Além disso, deve-se fazer a recomendação da higiene da pele com água e sabonete, com o adequado corte das unhas. Havendo infecção secundária, recomenda-se o uso de antibióticos, em especial para combater estreptococos do grupo A e estafilococos. O tratamento específico da varicela é realizado por meio da administração do antiviral aciclovir, que é indicado para pessoas com risco de agravamento. Quando administrado por via endovenosa, nas primeiras 24 horas após o início dos sintomas, tem demonstrado redução de morbimortalidade em pacientes com comprometimento imunológico. O uso de aciclovir oral para o tratamento de pessoas sem condições de risco de agravamento não está indicado até o momento, exceto para aquelas com idade inferior a 12 anos, portadoras de doença dermatológica crônica, pessoas com pneumopatias crônicas ou aquelas que estejam recebendo tratamento com ácido acetilsalicílico por longo tempo, pessoas que recebem medicamentos à base de corticoides por aerossol ou via oral ou via endovenosa. As indicações para o uso do aciclovir são:

Crianças sem comprometimento imunológico
20mg/kg/dose, via oral, 5 vezes ao dia, dose máxima de 800mg/dia, durante cinco dias.

Crianças com comprometimento imunológico ou casos graves
deve-se fazer uso de aciclovir endovenoso na dosagem de 10mg/kg, a cada 8 horas, infundido durante uma hora, durante sete a 14 dias.

Adultos sem comprometimento imunológico
800mg via oral, cinco vezes ao dia, durante sete dias. A maior efetividade ocorre quando iniciado nas primeiras 24 horas da doença, ficando a indicação a critério médico.

Adultos com comprometimento imunológico
10 a 15mg de aciclovir endovenoso, três vezes ao dia por no mínimo sete dias. Embora não haja evidência de teratogenicidade, não se recomenda o uso deste medicamento em gestantes. Entretanto, em casos em que a gestante desenvolve complicações como pneumonite, deve-se considerar o uso endovenoso. Com relação à profilaxia, não há indicação do uso do aciclovir em pessoas sem risco de complicação por varicela e vacinadas. A terapia antiviral específica, iniciada em até 72 horas após o surgimento do rash, reduz a ocorrência da NPH, que é a complicação mais frequente do herpes-zóster. O uso de corticosteroides, na fase aguda da doença, não altera a incidência e a gravidade do NPH, porém reduz a neurite aguda, devendo ser adotado em pacientes sem imunocomprometimento. Uma vez instalada a NPH, o arsenal terapêutico é muito grande, porém não há uma droga eficaz para seu controle. São utilizados: creme de capsaicina, de 0,025% a 0,075%; lidocaína gel, a 5%; amitriptilina, em doses de 25 a 75mg, via oral; carbamazepina, em doses de 100 a 400mg, via oral; benzodiazepínicos, rizotomia, termocoagulação e simpatectomia. O tratamento sintomático pode ser feito em regime ambulatorial, enquanto que pessoas acometidas por varicela grave ou herpes-zóster disseminado devem ser hospitalizadas imediatamente, em regime de isolamento de contato e respiratório.

Rotina
      A vacina tetraviral é oferecida na rotina aos 15 meses de idade para as crianças que receberam a vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) entre 12 e 14 meses de idade. Caso ela não tenha recebido a tríplice antes dos 15 meses, esta deverá ser administrada, devendo ser agendada a tetraviral pelo menos 30 dias após a tríplice.

Situações especiais
•Povos indígenas, independentemente da idade;
• Pessoas imunocompetentes de grupos especiais de risco (profissionais de saúde, cuidadores e familiares) suscetíveis à doença que estejam em convívio familiar domiciliar ou hospitalar com pacientes com comprometimento imunológico;
• Crianças acima de um ano de idade imunocompetentes e suscetíveis à doença, no momento da internação, onde haja caso de varicela;
• Candidatos a transplante de órgãos, suscetíveis à doença, até pelo menos 3 semanas antes do procedimento, desde que não estejam com comprometimento imunológico;
• Pessoas com nefropatias crônicas;
• Pessoas com síndrome nefrótica;
• Doadores de órgãos sólidos e de células-tronco hematopoiéticas (medula óssea);
• Receptores de transplante e de células-tronco hematopoiéticas - para pacientes transplantados a 24 meses ou mais, sendo contraindicadas quando houver doença, enxerto versus hospedeiro;
• Crianças e adolescentes infectados pelo HIV suscetíveis à varicela nas categorias clínicas (CDC) N, A e B com CD4> 200 células/mm3 (15%). Recomenda-se a vacinação de crianças expostas, mesmo já excluída a infecção pelo HIV, para prevenir a transmissão da varicela em contato domiciliar com pessoas com comprometimento imunológico;
• Pacientes com deficiência isolada de imunidade humoral (com imunidade celular preservada);
• Doenças dermatológicas graves, tais como: ictiose, epidermólise bolhosa, psoríase, dermatite atópica graves e outras assemelhadas;
• Uso crônico de ácido acetilsalicílico (suspender uso por 6 semanas após a vacinação);
• Asplenia anatômica e funcional e doenças relacionadas;
• Trissomias;
• Pessoas em uso de corticóides: - que estiverem recebendo baixas doses (menor que 2mg/kg de peso/dia até um máximo de 20mg/dia de prednisona ou equivalente). O uso de corticosteróides por via inalatória, tópica ou intra-articular não contraindica a administração da vacina;
- se o corticoide tiver sido suspenso há pelo menos um mês, quando usado em doses superiores às referidas acima.

Contraindicações da vacina
• Nos casos em que a vacina é contraindicada, deve se fazer o uso da imunoglobulina humana antivaricela-zóster (IGHAVZ).
• Pacientes com comprometimento imunológico, exceto nos casos previstos nas indicações.
• Durante o período de três meses após a suspensão de terapia imunodepressora ou um em caso de corticoterapia.
• Gestação (mulheres em idade fértil vacinadas devem evitar a gravidez durante um mês após a vacinação).
• Reação de anafilaxia à dose anterior da vacina ou a algum de seus componentes.
• Administração recente de sangue, plasma ou imunoglobulina (recomenda-se intervalo mínimo de três meses entre a administração destes produtos e a vacina).

Imunoglobulina humana antivaricela-zóster (IGHAV)
Indicações
A utilização de IGHAVZ depende do atendimento de três condições: suscetibilidade, contato significativo e condição especial de risco, como definidas abaixo.
• Que o suscetível seja pessoa com risco especial de varicela grave, isto é:
- crianças ou adultos imunodeprimidos;
- crianças com menos de um ano de idade em contato hospitalar com VVZ;
- gestantes;
- recém-nascidos de mães nas quais o início da varicela ocorreu nos 5 últimos dias de gestação ou até 48 horas depois do parto;
- recém-nascidos prematuros, com 28 ou mais semanas de gestação, cuja mãe
nunca teve varicela;
- recém-nascidos prematuros, com menos de 28 semanas de gestação (ou com menos de 1.000g ao nascer), independentemente de história materna de varicela.
• Que o comunicante seja suscetível, isto é:
- pessoas imunocompetentes e com comprometimento imunológico sem história bem definida da doença e/ou de vacinação anterior;
- pessoas com imunodepressão celular grave, independentemente de história
anterior de varicela.
• Que tenha havido contato significativo com o VVZ, isto é:
- contato domiciliar contínuo – permanência junto com o doente durante pelo menos uma hora em ambiente fechado;
- contato hospitalar – pessoas internadas no mesmo quarto do doente ou que
tenham mantido com ele contato direto prolongado, de pelo menos uma hora.

A IGHVZA não tem qualquer indicação terapêutica. Seu uso tem finalidade exclusivamente profilática.

Esquema
125UI/10kg de peso, dose máxima de 625UI, até 96 horas após a exposição.

Contraindicação
Anafilaxia à dose anterior.

Outras medidas
• Lavar as mãos após tocar nas lesões.
• Isolamento – crianças com varicela não complicada só devem retornar à escola após todas as lesões terem evoluído para crostas. Crianças imunodeprimidas ou que apresentam curso clínico prolongado só deverão retornar às atividades após o término da erupção vesicular.
• Pacientes internados – isolamento de contato e respiratório até a fase de crosta.
• Desinfecção – concorrente dos objetos contaminados com secreções
nasofaríngeas.
• Imunoprofilaxia em surtos de ambiente hospitalar.


BOA SORTE!

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